O dia parece aberto, mas está tudo fechado. Olho pra rua e só vejo
sinais fechados. Corpos fechados. Conversas fechadas na sala de
estar. Santo André fechada. Uma merda de transporte fechado. São Paulo fechada
pra qualquer coisa nova. A internet está fechada para qualquer coisa nova.
Viajar? Quem sabe, mas a droga do guichê estava fechado. Isso só pode ser
uma piada ou então devia ser só mais um fim de noite fechado, ou do mais puro
azar...
Sentei em um dos nos banquinhos da rodoviária cheirando a Tietê.
Gente lendo, correndo pra não perder o ônibus, solitárias com seu MP3, e eu
observando tudo feito louca... Me dei conta de que não era o guichê, nem as
cidades, nem ninguém, fechada era eu... fechada pra balanço e nenhum
pouco a fim de abrir a porta pra encontrar o óbvio.
- Que você ta fazendo aqui?
- Querendo viajar, sei lá. Quanto tempo, hein... Caramba!
- Pois é. Você sumiu...Vai viajar ainda?
- Não desisti da ideia, acho que não vai adiantar muito na minha
chatice, e você?
- Eu só vim trazer meus pais, eles estavam aqui de passagem. Quer
um café?
- Quero.
Sabe aquelas pessoas que marcam sua vida por muito pouco. Por palavras,
por uma atitude, ou pelas duas coisas? Conversamos algumas horas, sobre
coisas diversas, lembramos histórias engraçadas, como aquela que a gente se
pegou no banheiro. Era uma viagem com amigos, numa casa de campo, todo mundo
dormia... Ninguém viu. Ninguém soube... memórias.
Por um instante
compartilhamos nossa falta de angustia, e chegamos à conclusão que esse era o
problema. Estava tudo normal. E nada do que a gente fizesse naquele conversa
deixaria de fazer parte da normalidade. Poderíamos ter saído, bebido, transado,
sei lá... faz tempo que a gente não se via. Tínhamos intimidade,
amizade, uma ex-paixão de colégio. Estava tarde e ambos irritados com o dia.
Tudo a ver, todos pensariam, mas...
- Vou te levar num lugar.
- Hummmm...
- É impressionante, você muda, cada hora ta de um jeito, mas suas piadas são sempre sexuais...
- Nem sempre, às vezes são taras também.
- Brincadeira. Gosto do seu humor, chega a ser mal humorado, às vezes...
- Que pleonasmo...Ah, seu prédio? Legal, não é muito óbvio isso?
- Calma. Espera aqui.
Esperei na porta do apartamento. Ele voltou com o celular carregado de músicas um tanto excêntricas. Não entendi nada.
-Sobe. E fica de olho na escada pra não cair...
Fiz o sinal da cruz , subimos as escadas de serviço e estávamos no alto do prédio. Vimos o movimento das ruas, dos prédios em volta. O vento batendo no rosto. Era triste saber que no fundo somos apenas pontinhos vagando por ai, no meio de tantos prédios, holofotes. Mas era bonito ver as luzes dos mesmos e o céu estrelado. Bonito, simplesmente bonito.
- Bonito, diferente e melancólico, eu diria. Acho que isso foi a melhor parte do meu dia.
- Ta faltando a ópera...- lembrou, ligando o MP3 do celular.
- Ópera?
- É, eu li alguma coisa sua, você escrevendo algum lance de ouvir ópera no telhado pra ficar mais calma, fiquei com aquela ideia na cabeça. Disse pra mim mesmo que ia fazer um dia.
- Eu escrevi isso , em um momento de estresse... legal você ter lido.
- Sempre leio. Mas eu te vi e deu vontade de fazer isso: ouvir ópera no telhado com você.
- Literalmente um telhado, a gente ta no alto de um prédio de...
- Quatorze andares... Engraçado, a gente parece um pedaço daqui de cima, né...
- Sim. As coisas parecem pedaços...
E foi ali, no alto de um telhado, que me dei conta que um pequeno pedaço de mundo pode fazer um grande desfecho.
K.C
Axei um post sensível e fiquei pensando no q aconteceu depois se eles se abraçaram conversaram se acabaram dormindo juntos no telhado, vc deixou esse mistério. Se foi uma historia real deve ser maluca e axo q intensa tbm, se foi ficção foi mto bem montada. Curti muito vou voltar mais vezes.
ResponderExcluirO que aconteceu quem sabe eu conte um dia. Volte sim, eu posto sempre ;)
Excluiro lokinha viu como naom é só eu que axei um gosto [i depois konta vai] va ter continuaçaom ou vc naom vai contar oke aconteceu depois com vc e essse karinha!!!!!!!
ResponderExcluirQuem sabe eu conte um dia...
ExcluirTenho a impressão de ter lido este texto no feedburner do seu blog que recebo e ter comentado, mas reli, ele é muito bonito e simples. Você não vai contar mesmo o que aconteceu depois?Boa semana.
ResponderExcluirObrigada pelo carinho e leitura DE SEMPRE, Martielo, bjs.
ExcluirAmei sempre podemos encontrar uma coisa bela nos dias cansativos que nos consomem de falta de surpresas. To compartilhando no Face. Beijos.
ResponderExcluirObrigada pelo carinho e leitura, bjs.
ExcluirPaulistano, mas bem escrito, tua cara!!!!!!!
ResponderExcluirobrigada, moço.
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