Felicidade De Robô







O que é felicidade pra você? - me perguntaram. Na ocasião, pensei que fosse alguma cantada batida. Eu estava numa festa, e ai no finalzinho,  formaram  uma roda e começaram a discutir essa interrogação felicidade.

Estar com pessoas queridas, ter posses, amor, saúde, sexo, Deus, “felicidade não existe, só momentos felizes”, cada qual com sua opinião. Um cara qualquer na roda começou a pregar para os seus discípulos o que era felicidade, dizendo que pra ser feliz tinha que ter “jeito tal, comprar o que você deseja, pensar positivo...  porque o livro  ‘O segredo’ e blá blá blá...”, ideias típicas desses livros de muitas páginas que não dizem nada e que querem colocar na cabeça das pessoas  que existe sempre um x para “buscar o caminho” da tal felicidade.

Ser feliz parecia  fácil como  num comercial de absorvente:  você pode até não estar bem em um dia, mas existe  sempre um jeito prático e fácil de ser feliz estando... confortável? Só nós gatas garotas sabemos que infelizmente não há nada de feliz e poético em menstruar todo o mês, embora tentem vender isso.

Que fim de festa...Se discutir aquilo era um modo de ser feliz, porque é que não inventaram o livro “como se livrar da infelicidade em cinco minutos ”, pensei.

Não cheguei a  uma conclusão. Também não pensei demais sobre o mesmo. A discussão em torno da felicidade tem sido praticamente uma  imposição contemporânea. Vemos isso em comerciais de produtos que nem sempre precisamos, nos enganosos livros de autoajuda, e por conta de tudo isso, a filosofia, a história, a psicanálise, a linguagem tem tido a preocupação em discutir sobre o assunto.


Essa felicidade que inventaram é sectária: ou você é feliz, e dentro dessa felicidade existe um monte de regras pra se cumprir. Ou você é depressivo, palavra que é uma doença e que tem sido usada banalmente para qualquer angústia. As duas coisas ao mesmo tempo, então,  é o termo que mais está na moda falar “ bipolar”...


Parece que a felicidade não é mais um sentimento,  virou uma regra, e inconscientemente, várias pessoas criam a culpa de não ser feliz da maneira imposta e passam a vida procurando remédios, florais, a última igreja da estação, e os livros falsos que vendem qualquer “como" que prometem que fazendo coisa de tal jeito você será feliz, “como ficar rico”, “como beber e não ficar com cirrose”, “aprenda dez maneiras de fazer sexo sem ficar dolorido”, "como fazer seu vizinho gritar menos ", "como pegar menos trânsito"... desconfio que ficaria rica em criar títulos de livros de auto-ajuda...

No meio de tantas ideias ‘incríveis’ que tentam vender como felicidade, fica difícil entender o que ela é.  Não dão nem fôlego de pensar, é felicidade de robô.

Esta ai uma conclusão: não quero saber o que é felicidade... coisa estática, morna, de gente boba, mas procurar senti-la quando vier, com quem ou como vier. Os sentidos navegam na ideia de coisa meio aleatória mesmo, algo que produz uma sensação momentânea.

Acho que essa felicidade tem mais cara de gente, aquela que, como todo sentimento, não se sabe quando virá, o que provocará, da mesma forma que raiva, paixão, desespero, tranquilidade, excitação, também se sentem e não duram. Vem e voltam, feito gangorra, pingue-pongue, dentro da gente, enfim sentir.










Sentir é estar vivo. Às vezes é bom, às vezes é ruim, angustiante, mas tem pele. É incerto, e daí? Viver também é incerto e ainda assim a gente tenta sobreviver. 

Felicidade está em algo em que a idiota autoajuda nunca vai entender. A graça da felicidade está na incerteza de sentir.




K.C



6 comentários :

  1. Muito bom seu texto, gostei da última frase: "A graça da felicidade está na incerteza de sentir". Parabéns, continue escrevendo.. ;D Ah! gostei da foto do logotipo também. rs

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  2. - O que é Felicidade?

    - Felicidade É. E basta.

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  3. Oi minha amiga, tudo bem?

    Puxa você fez uma mistureba de idéias e no final ficou tão bom! Hahahahahahaha, mas o importante é ser feliz de verdade.
    Você escreve bem demais viu, parabens!

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  4. Eu concordo plenamente com o que você disse e comentei isso com amigos outro dia dessa felicidade ditatorial que mais faz a gente ser infeliz que outra coisa, uma escravidão publicitária mesmo.Parabéns pela coerência, criatividade, etc.

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