Bem que meu pai avisou
Homem não sabe mulher
Falou o que falou seu pai, meu avô
Mulher é o que Deus quiser
Itamar Assumpção
As ideias para escrever foram muitas,
durante a semana. Em meio ao trabalho, hipnoses cotidianas e a falta de tempo
que insistia em me rodear, minha cabeça fervilhada sobre o que é ser mulher,
tornar-se independente - não só economicamente, mas em outras coisas -, e na
minha avó materna.
Essa última ideia veio por conta do “dia dos avós”, há pouco tempo, e de ver meus amigos postando fotos daquelas que muito nos estragam e ensinam. Sempre lembro da minha avó com boas lembranças, apesar da rápida convivência...
...do bolinho de chuva, do deboche, dos
olhares dela ali, quietinha na cadeira de rodas, que muitas vezes significavam
mais que as frases feitas ditas pelos mais velhos, e também do maior legado que me
deixou: ninguém é obrigado a fazer nada que não seja condizente com a sua
personalidade.
Tenho a impressão de que ela fez tudo ao
contrário do que meus bisavôs esperavam: usava batons escuros, fumava cigarros
de palha, enfrentou inúmeros preconceitos pra se casar com um cara negro (meu
avô), coisas que pareceriam tão próximas da nossa realidade, mas aconteceram há décadas distantes e provam que não evoluímos tanto assim...
Não alimentava vaidade pessoal pra dizer
que não sabia ou não gostava de uma coisa em qualquer ocasião, conseguiu se erguer de uma
depressão, após perder uma perna que a deixou deficiente.
E por mais bonito que fosse escutar todas
essas histórias, eu não pensava tanto no quanto fazem imposições para as pessoas,
sejam homens ou mulheres, de como elas deveriam agir, ser, sentir, atitudes que parecem ser apenas culturais, mas acabam
virando “obrigações imaginárias”.
Não tinha a noção do quanto é preciso ter
coragem para negar tudo o que tentam obrigar à mulher, até me dar conta de que
eu estava me tornando uma...
Entre uma prova de sobrevivência e outra, entre
uma ressaca de palavras e atitudes, entre amores, alguns bem vividos, outros nem tanto, fui me dando conta de que ser mulher é diferente de apenas pagar
as contas, de ser adulta, de ter formação.
Vai muito além de ter peitolas e sangrar
todo mês, de ser ou não ser feminista, cristã ou ateia, casada ou solteira, com
ou sem filhos, todas essas coisas não tornam ninguém superior a alguém, mas
ouso dizer que ser mulher é poder ter a atitude de olhar no espelho e dizer:
Desculpa, baby, eu não sou obrigada!
Por coincidência, essa é a primeira frase
que alguém lê antes de entrar no meu quarto. Ninguém abre minha porta sem
bater, nem bisbilhota meu mundo sem convite.
Porta do quarto (arquivo pessoal) |
K.C