Aquela manhã parecia igual a todas as outras. Cristina se trocou, tomou seu café, ligou o rádio do carro para ouvir seu som de costume. Mas nenhuma estação pegava.
As ruas estavam quase desertas e, quando não, ocupadas por indivíduos assustados, surtando, fazendo protestos.Tudo destoava de um dia normal.
“Estão todos dispensados” – dizia a placa de aviso no seu trabalho.
Os jornais noticiavam fatos graves, algo sombrio estava por acontecer. Crise econômica? Crise política? A causa ao certo ninguém sabia.
Dando voltas sem saber pra onde ir, Cristina encontrou um bar aberto, pediu uma cerveja e observou as pessoas ao redor, que estavam aparentemente tranquilas, bebendo, dançando e fazendo as piores piadas com o ocorrido sem controle.
− Alguém pode me dizer o que está acontecendo? – perguntou ao garçom e para quem mais ouvisse.
− Você não ficou sabendo do que ocorreu nesta noite? – respondeu um homem na mesa ao lado.
− Não, o que houve?
− Um idiota, se dizendo profeta, publicou um texto numa rede social dizendo que tudo iria acabar. Congresso, comércios, pessoas. O país viraria um território vazio. Então, quem não está surtado em casa, está enlouquecido pela rua.
− Que piração! Mas bem que não seria má ideia se fosse verdade...
− Também acho. Qual seu nome?
− Cristina.
− Sou Rafa.
− Prazer. Eu dormi feito pedra e não soube da nada.
− É que tudo aconteceu muito rápido. O sujeito escreveu e publicou na noite de ontem. Foi noticiado nas mídias hoje de manhã. E o dia ficou assim. O texto era coerente, enfático, mas é insano as pessoas acreditarem em tudo o que é noticiado.
− Talvez tenham acreditado porque não existe mais nada ao que se agarrar. Quem não entende nada, nada tem a perder quando acredita em qualquer coisa ou numa profecia pirada.
− Faz sentido... E você... o que você faria se levasse a sério esse lance de fim?
Cristina deu um leve sorriso e começou a sua demonstração:
Tomou Rafa pela mão e dançou como se não houvesse outro dia. Mandou as recomendações médicas para o inferno e o beijou sem importar se alguma doença a afetaria. Escreveu pequenas poesias em guardanapos e distribuiu às pessoas do bar.
E então, foi embora, seguiu em frente, tomada por um bom sentimento que não sabia explicar.
Sem saber o que esperar, fez meditação em plena Paulista, deu seu melhor par de sapatos a uma estranha, comprou passagens para um lugar em que nunca pensou chegar.
Escondeu seu orgulho na respiração ofegante, bateu na porta de quem amava sem avisar:
− E então, vem comigo?
No meio do caos, Cristina encontrou na loucura seu próprio modo de ter esperança.
K.C
Texto inédito publicado na Revista Literária Primeiro Capítulo - Ed.3
Bom você ter voltado a escrever, curto muito os seus textos, seu jeito de se expressar e acho também que tem muito estilo. Bem-vinda de volta!!!Beijo.
ResponderExcluirObrigada!Bjuuu!!!
ResponderExcluir