A vida depois da fumaça verde

Fiz uma experiência que poderia ser catastrófica para muitas pessoas: fiquei 5 dias sem olhar o WhatsApp. Tirei minha foto do perfil, o “visto por último” e tudo o que fosse possível para não ser encontrada. Tomei a atitude depois de um cliente me estressar ao extremo às duas da manhã, como se eu não tivesse vida social.

Aquele “façanho” ícone verde pode ser como um trevo de quatro folhas em várias situações que precisamos resolver diariamente, mas pode muito bem virar um pequeno Hulk e transformar a vida num inferno, quando não for utilizado com equilíbrio.

Se antes, o app era apenas um lugar pra conversar com amigos próximos e pessoas que eu não via com frequência, hoje virou uma ondulação de coisas: paqueras, clientes,  quando vi estava dentro de grupos estranhos e bem piores que os familiares - que já são grupos piores por luz própria, o Senhor os fez assim...

Como se não bastasse, o WhatsApp gerou em mim a pressão social de responder os outros mais rápido e também de cobrar meus amigos ou algum crush para me responder mais rápido também, por conta dos malditos tiques azuis e horários das últimas visualizações.

É como se aquele ícone se transformasse numa espécie de “fumaça verde” que entra pelos coágulos do cérebro e faz com que se crie mil teorias do por que o outro não respondeu sua mensagem na hora.

Não é maconha. Se a opinião de várias matérias de sites tiverem razão, a fumaça verde pode piorar no cérebro.

Alguns “consultores especialistas” podem dizer que, de repente, a pessoa não te dá importância, que ela não te ama, que não está a fim de você o bastante, e segundo eles, quando isso acontece, o importante é erguer a cabeça e virar a página -  como se fosse simples... - , quando na verdade a pessoa pode apenas estar ocupada ou não estar tão legal assim para responder. 

O distanciamento me fez ver o app de outra forma, por que eu percebi que muitas vezes, eu também não estou a fim de responder as pessoas, inclusive quando estou de TPM, querendo ficar sozinha, qualquer coisa assim, então, por que devo cobrar respostas prontas de alguém?

Quando a gente é importante pra uma pessoa, em algum momento ela vai responder, mandar um SMS, te ligar no Skype, te cutucar no Facebook, dar um jeito de sinalizar que ela ainda está ali, na sua vida.

Sobre tudo isso, o vovô Zyg, mais conhecido como Zygmunt Bauman aponta no seu livro “Medo Liquido” que as relações se transformaram numa fonte de ansiedade. Já não temos mais conforto ou tranquilidade em conversar com alguém, ficamos em estado de alerta o tempo inteiro, buscando algum reconhecimento, seja bom ou ruim.

Para o Zyg, não importa qual é a ferramenta digital utilizada, precisamos nos contatar muitas vezes com os outros, na esperança de que a quantidade de mensagens nos celulares tampará a falta de qualidade das relações e dará uma certa sensação de lealdade, evitando o esquecimento.

Toda essa ansiedade gera muitos medos, e estes geram inseguranças, e elas são muito lucrativas para aplicativos como o WhatsApp, por que quanto mais inseguros com as visualizações de mensagens não respondidas, mais passamos a utilizar os aplicativos e viciamos neles. 

Numa gama de mensagens respondidas e vistas ou não, temos que dar conta de algo muito mais importante que os dois tiques azuis: os nossos afetos pelas coisas e como lidamos com eles.

Existe alguma outra solução? Se tiver, me adiciona e me conta no zap zap.

K.C