Era uma
segunda-feira qualquer. Eu aguardava uma consulta médica. Na sala de espera, as
histórias eram sempre as mesmas: desgraças e doenças alheias, que provocavam um
certo brilho nos olhos de quem escutava.
Até que uma mulher
robusta e falante começou a expressar sua revolta política “ Fora Temer? Que nada, a melhor coisa foi esse impeachment,
a gente leva a vida honestamente e esses caras só desrespeitam os outros, não
temos mais moral e nem ética (...)” – expressava, sem parar de falar.
Apesar da salada
mental de termos entre moral e ética, eu votei não para participar da conversa
e sim para os meus fones de ouvido. David Bowie é sempre bom pra passar o
tempo, que passou como várias pessoas na minha frente.
Reclamei com a
recepcionista para checar o que aconteceu. Depois de uns minutos, a doutora
finalmente me chamou, sugerindo algo grave.
- Lembra aquela mulher que estava aqui agora
pouco, bem... comunicativa?
- Sei sim... – Comunicativa é? Ela foi gentil,
aquela mulher falava tanto que se os esparadrapos estivessem na boca dela, eles
entrariam em depressão crônica. Nem uma cenoura ou qualquer outro tipo de legume teria o poder de
calar aquela voz... - divaguei.
- Que?!
- Pois é, achei estranho, ela entrou, ficou
um pouco quieta, até que eu confirmei o nome completo. E ela disse que sim, que
estava certo, era a Kelly mesmo.
- Bom, dizer o que depois dessa...
- Só minha recepcionista que pede a
identidade para as pessoas, mas sua consulta já estava paga. Eu vou te atender,
não foi sua culpa, peço desculpas.
- Tudo bem.
- O
mundo tá louco mesmo, como uma pessoa é capaz de fazer isso só pra não pagar consulta.
– justificava a doutora, meio sem graça.
- Eu acho que o mundo sempre foi louco, é que
agora as pessoas estão cuspindo mais as suas loucuras...
O fato é que a mulher
que estava tão indignada com a desonestidade dos políticos do país, também foi
desonesta da
mesma forma quando se passou por mim. E podia ter prejudicado a carreira da
médica, que poderia ter receitado medicações desnecessárias e até
perder o CRM dela por causa da falta de senso da honesta.
Contando o caso
para uns amigos, soube de histórias de pessoas que prejudicam os mesmos de
formas parecidas: no trabalho, no simples conserto de um carro, entre outras
coisas. Então, será que a desonestidade vem de “quem está por cima” como o
senso comum curte expressar? Não seria o Congresso uma imagem semelhança da população alienada?
Será que as
pessoas que concordaram com o sim para o impeachement
agem de forma honesta no dia a dia? Será que se elas estivessem no lugar
daqueles políticos, elas também não fariam as mesmas coisas horrorosas?
Pode até existir
pessoas que estejam indignadas com o país, que desejam mudanças, não coloco
isso em questão.
Minha reflexão não é uma generalização, tampouco uma defesa para algum partido, mas atitudes como estas só deixam claro como a imagem semelhança é alienante: ela faz uma pessoa fazer oferenda para o erro alheio e benzer o próprio erro dela.
Minha reflexão não é uma generalização, tampouco uma defesa para algum partido, mas atitudes como estas só deixam claro como a imagem semelhança é alienante: ela faz uma pessoa fazer oferenda para o erro alheio e benzer o próprio erro dela.
K.C
Ps.: Senti saudades, deleitores, é bom estar de volta :D.
Tirou as palavras da minha boca, mas bem superior a minha escrita se fosse eu o blogueiro. O tal do jeitim brasileiro que é a raiz do problema. pq quando crescermos seremos funcionário público, policiais... políticos. Este último é o mais atraente para quem se formou na escola 171. Só criticam os políticos pq não recebem a fatia do bolo. Bom texto para refletir. Muito bom Kelly
ResponderExcluirObrigada! Volte mais vezes, bju!
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