Quando Broxadas Acontecem...


Já fui incompreendida por querer ser justa, não em tudo, mas em pequenas coisas que ocorrem no cotidiano. A ponto de ser chamada de radical ou arrogante por expressar apenas uma opinião contrária à maioria, e também de idiota por não querer “passa a perna” em alguém. Mas sou adepta de que quem possui o mínimo de autoestima, não precisa ultrapassar os outros, nem em palavras e nem em atitudes.

E quem diria, já ouvi tudo isso, logo no país que preza tanto o “diálogo aberto”, o  “espírito da honestidade e da democracia”...




É estranha essa síndrome broxante brasileira do “deixa pra lá”, “são águas passadas”, “nem esquenta”. Não é humilde. Não é um querer ser casual. Não é moderno - coisa que o brasileiro pensa ser. Não é simplesmente um querer viver bem. Como viver bem assim? É o mesmo que estar com alguém e ser feliz sendo broxa.  

Isso deve ser uma broxidão, só pode ser. Acho que os homens devem entender essa expressão melhor que ninguém. Eles sempre dizem que broxar é ruim, é vergonhoso... Dizem que faz mal ao ego masculino e ai eu fico imaginando, sabe, colocando-me no lugar deles, alguns fazem uma carinha que chega a dar vontade de cuidar. E até hoje, não sei ao certo se é inconsciente, sinto uma broxalidade no olhar de muitas pessoas - independente de gêneros- no cotidiano.



“Me deram o troco errado? Deixa pra lá.”.
“Ah, burocrático, até eu resolver isso...”.
“Discordo disso, mas não vou falar, não, deixa pra lá.”.
“Estou magoado, mas passa.”.
“É besteira ler, um dia todo mundo morre e os livros ficam ai...”.
“É besteira  discutir política, pra quê? Político rouba todo mundo mesmo...”.


Paranoia seria se um olhar estranho fosse levado a sério, um comentário, uma fofoca banal, realmente, é de se deixar pra lá. Mas quando broxadas de coisas que poderiam ser melhores acontecem, só se reclama a esmo da vida. Reclamar parece ser uma diversão para uma vida broxante na mesa do bar.
 

Aprender a reivindicar possíveis direitos e expressá-los no seu cotidiano não tem nada a ver com arrogância, prepotência ou humildade, é apenas ser um pouco mais justo. Se não dá pra ser com o mundo, ao menos na sua vida.


Não dá para deixar tudo pra lá. Não se pode anestesiar a vida em um simples esquece. Como dizia o grande Millôr Fernandes “certas coisas só são amargas se a gente as engole”.  Isso  deve ser verdade. Outro dia vi um cara na rua, com quem convivi certos meses. Não senti a mínima vontade de falar com ele. Não senti saudade, nem raiva ou rancor, só falta de vontade. Senti um tédio naquele dia por outros motivos... Passei e não falei nada, simples assim.

Ele não sabia como olhar para minha cara.  Eu também não fazia muita questão. Fugir? Não dava. Fui fria? Deveria ter sido gentil? Dado um oizinho, só pra disfarçar? Fui Arrogante? Não, não fui. Apenas fui justa com uma pessoa broxante.  



K.C

21 comentários :

  1. Eu gostei muito desse texto, de todos desses dois últimos meses, esse foi o meu favorito, pois você expressou coisas cotidianas, coisas sobre você e fez a gente refletir sobre tudo com senso crítico, acho que é assim que todo bom escritor deve ser.

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  2. Me identifiquei com esse texto. Adorei.

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  3. Adoro suas crônicas. Final perfeito e que diz muito que a gente deve ser justo com a gente mesmo.

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    1. Obrigada. Essa era a essencia do texto. Teve gente que mandou email e levou pro lado físico e sexual e não tinha nada a ver.

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  4. KKKKKKK tirando a parte do ego de músico axei bem massa o texto kkkkkkkk
    E axo q infelizmente o brasileiro ja se acostumou com esse gosto amargo =/
    mas muito bom... parabéns!

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  5. Já deixo claro aqui: não quis levar nada para o lado sexual. Esse texto foi uma crítica À ATITUDES BROXANTES = ATITUDES MOLES. Foi só isso. Obrigada pelos emails e comentários de sempre, de coração.

    Kelly.

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