Babylon


Para Lívia L.




Não preciso de muitos amigos, tampouco quero provar nada pra ninguém, ser simpática o tempo todo, eu nunca fui assim com todos, ah você sabe...desde que uma metida à jornalista estudantil com uma grunge resolveram se intrometer uma na vida da outra.  Aos poucos, deixaram de ser garotas, e se  tornaram duas moças, "peruas", bêbadas e inseparáveis, até na distância. A gente sempre teve desejos, todos diferentes, mas que pareciam ser complicados demais para quem desejava uma vida mais comum, em alguns a gente veadamente se completava... fazer bem o trabalho, procurar paz de espirito ao invés de felicidade comprada... coisas que talvez, poucos entenderiam.  

Nossa amizade sempre foi nossas respectivas paixões: a escrita e a atuação, uma é diferente da outra, mas ao mesmo tempo, elas se precisam... Isso foi claro nos porres, nas crises que não foram poucas, nos choros, nas risadas amargas que demos de quem achamos idiota, nas comemorações de algo legal que acontecia - afinal, tão difícil isso no mundo-, no café quente depois da ressaca...


A principal coisa que aprendi com você é que precisamos sempre ser nós mesmos quando estamos no palco, feliz, acertando na cena, errando na cena, doente, mas sempre no palco, mesmo quando não temos certezas, ah você sabe, eu acho cafona esse negócio de ter certezas, ou melhor, acho a sociedade toda uma coisa chata e cafona, mas bem, estou sendo cafona agora, também, então isso não faz diferença... Acho que não tenho muito o que dizer. Nunca tive raiva de você. Nunca julguei você, tampouco vou julgar. Eu nunca vou deixar de olhar por você, certo, esse povo que fica dizendo "nunca" demais é um bando de mentiroso, você precisa desconfiar sempre deles, viu?  Droga. Mas, dessa vez foi sério. O fato é que hoje outras coisas são precisas, tanto para mim, quanto para você...



Preciso de pessoas que entendam minha timidez, que entendam o meu silêncio,  minha tendência a ser bipolar , de uma hora estar rindo, outra hora estar chorando, outra hora as duas coisas, que entendam meus pitis de ir embora, sem dar explicação, só porque tive vontade, que entendam as minhas loucuras, que entendam quando eu não quero estar louca, quando eu não quero conversar, quando quero estar só, que não queiram me transformar em algo que nunca fui. 




Como era bom quando você entendia o meu silêncio. Como era bom quando você era a amizade que eu precisava, a que me entendia, a que muitas vezes me bastava... mas crescemos, mudamos, não lhe culpo por isso. Como sempre digo, "a vida nada mais é que movimento", não o movimento do que pensamos que somos, mas do que  hoje estamos sendo e do que amanhã talvez seremos. 


K.C