Oito
horas... Tem festa com uns amigos mais tarde, mando mensagem pra eles? Ainda
está cedo... O que aconteceu? Pra onde eu fui? Entrei na padaria para comprar
um x-burguer. Meus pés amortecem, meus braços formigam. Minha cabeça lateja.
Tontura. Desespero. SAMU. Ambulância. Uma amiga chega, de repente, ela me
abraça, tenta me salvar do meu desespero. Eu já não sei mais de nada, tampouco
penso na dor.
No meu rosto, lágrimas de dor física e ansiedade.
Eu odeio hospital, queria logo ir embora dali, fobia? Falava com os olhos.
“Calma, esqueceu que eu faço enfermagem, Lu, não vão fazer nada de errado com
você lá”, diz a amiga... Tudo tão rápido...cabeça girando...
“Você tem precedentes de doenças psicossomáticas na família?” . “Todos nós somos psicossomáticos”, a médica faz uma cara de interrogação pensando, talvez, se eu me referi a minha família ou a toda maluca população. Alguns dos meus amigos dizem que eu gosto de falar essas frases diretas de efeito, que ficam na cabeça dos outros, às vezes é mesmo sem querer, noutras mesmo com querer, algumas mesmo por prazer... mas naquele momento em nenhum dos mesmos eu era capaz de pensar...
“Você tem precedentes de doenças psicossomáticas na família?” . “Todos nós somos psicossomáticos”, a médica faz uma cara de interrogação pensando, talvez, se eu me referi a minha família ou a toda maluca população. Alguns dos meus amigos dizem que eu gosto de falar essas frases diretas de efeito, que ficam na cabeça dos outros, às vezes é mesmo sem querer, noutras mesmo com querer, algumas mesmo por prazer... mas naquele momento em nenhum dos mesmos eu era capaz de pensar...
- Nós vamos medir a sua pressão. Tem diabetes? Está
Grávida? Ou suspeita de gravidez? Usa entorpecentes? Maconha, cocaína,
crack... - quantas perguntas, que mulher louca... não me deu nem fôlego pra
respondê-las, respirei e... - Não – respondi à médica , mais agitada que eu.
- Fuma?
- Não.
- Fuma?
- Não.
- Bebe?
- Sim, casualmente, mas hoje não bebi.
- Vamos medicar você, se estiver melhor, está
liberada...é bom que você faça exames também...
- Ok, obrigada. – Não fui com a cara da médica. Não
parecia um humano, era um andróide, nem parecia que estava cuidando de
pessoas... ela parecia uma espécie de General dos Médicos do Quartel da
Ditadura Militar, fiquei com medo dela, mas me atendeu e educação nunca é
demais.
Após os exames, o enfermeiro me olhou com um leve
sorriso no rosto, “você não parece ser doente...”-animador ouvir isso... -
enquanto preparava a injeção, fiquei mais com medo da cara da médica, que da
aplicação.
- Você deve ter tido algum momento de estresse, é
muito novinha pra ter coisa séria... vai precisar de um especialista, mas
amanhã você vai tá melhor com esse remédio...não vai doer nada.
Por um momento, enquanto tomava a injeção , pensei
se todos que trabalhavam naquele hospital eram agitados assim, mas o
enfermeiro, ao menos era simpático.
- Ah, importante: não deixa ela dormir sozinha hoje - disse olhando para a amiga.
- Pode deixar. É melhor você dormir em casa...
Nossas casas não eram longe do hospital e da
faculdade, fomos conversando e eu lembrava de pouca coisa, deitei naquela cama
enorme... ouvia uns colegas na casa do lado conversando... de repente, no
corredor, vozes. Vozes que, mesmo perto, eram muito distantes, “vou fazer
um miojo pra você , alguma comida...”, “ela vai apagar, tadinha...” , “ o remédio
dá sono, o enfermeiro disse...”. Nessas horas é bom ser salva por pessoas que
de alguma forma lhe querem bem...
Amanheci com a luz do sol brigando com a cortina.
Ela queria entrar na casa, e a cortina não deixava, era um anticorpo ou um
corpo estranho? Deixei um bilhete para a amiga agradecendo o tudo que foi
muito, claro, amizade não se agradece, mas não custava dizer poucas palavras
pelo acolhimento... eu não quis acordá-la , e também ela ia entender. Eu queria
estar em casa. Quando abri o portão, olhei a rua e as pessoas, o dia incerto,
pensei ter sido rapidamente salva pela luz do dia.
... Acho que vou sumir daqui um tempo pra ficar
bem, saudável com o corpo, já que mentalmente, por mais que se tente, é difícil
ficar em estado pleno. Quero me cuidar , aproveitar pra fazer outras coisas,
antes de ficar estudando, sem estar bem fisicamente, inclusive numa cidade que
eu não gosto.
Nua, enrolada na toalha, pego minha taça de vinho e
olho para o vestido preto: eu poderia ter morrido com você, não é, baby
fúnebre? Talvez, morte não fosse para tanto, digo a ele enquanto dou risada...
Passei por um quase dia de salvação pra sentir o
quando saúde não é somente vitalidade, mas o básico, as outras coisas, por mais
vitais e belas que sejam, não são tão básicas como estar bem pra poder
ouvir o barulho da chuva. Agora, entardece, chove, e sei lá porque senti,
eu só sei que senti. Senti que essa chuvinha rasa salvou o meu fim de tarde.
K.C
Belíssima crônica, a saúde é vital e amizade também.
ResponderExcluirSomos forçados a todo momento a atingir uma felicidade, um estado pleno de saúde física e mental.
ResponderExcluirE não é a toa, que muitos dos imperfeitos, degenerados, débeis e doentes podem atingir algo mais sublime e puro além da casca.
Ausencia de doença mental não é ser humano.
Uma ótima crônica de nossa genial e perturbada Kelly.
Kelly, cada momento é um momento certo para saber o que se quer na vida. Aqui, nós leitores do seu blog, queremos sempre ver esta inspiração que nos traz aqui para te ler, reler e rever suas "maluquices" literárias. Aqui sabemos um pouco da sua vida, seja em forma de personagens ou a própria Kelly dando sua aparecida, mas saber que pode estar com algum problema é um problema saber. Gostaria que tudo isso fosse uma breve passagem, um amadurecimento do espirito e do corpo para mais um longo período de convívio. Take Care! Abraços.
ResponderExcluirUma boa crônica sobre a vida, sobre a dinâmica de um hospital nada agradável, faço minhas as palavras do meu chará acima é bom reler suas maluquices literárias, que por mais cômicas ou trágicas que sejam, acabam sendo belas.
ResponderExcluirfino!
ResponderExcluirAs vzs podia ter caído na calçada, batido a nuca nalguma coisa e ido pra fita.
ResponderExcluirtexto maravilhoso quase que em
ResponderExcluirforma de um poema. esse medo de hospital faz parte muitas pessoas
sentem isso. continue escrevendo
dessa forma porque voltarei aqui
outras vezes para ler seus textos
parabéns.
PERFEITO!
ResponderExcluirMe senti dentro do seu texto, há um tempo que isso não acontecia por aqui.
ResponderExcluirhttp://www.papel40kg.com/
Que crônica mais bonita, a Lu passou um perrengue... eu não ia ler pq. tava grande, mas vc. envolve a gente nos seus textos.Sou amiga da Luana, ela gosta de ler seu blog , dai resolvi passar. Bj.
ResponderExcluirAi que angústia que eu tava sentindo.
ResponderExcluirUm andróide? kkk, imagino como é ter uma cara assim.
muito bem escrito!
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