Quanto vale um crush?





Um leitor mandou um e-mail, me pedindo pra escrever uma crônica sobre crushes e as relações enroladas que, às vezes, eles trazem. Sinceramente, eu nunca consegui entender muito bem essa onda de crushes, por mais que, de repente, eu sinta que sou crush de alguém e alguém acaba virando meu crush

O papo pode até parecer adolescente, mas da minha própria experiência e de amigos de várias idades que me contam causos : crushes muitas vezes não ficam só naquela paquerinha platônica,  de leve, como o sentido da palavra sugere, não.  Às vezes é divertido, mas um envolvimento maior com o crush pode virar um sentimento mais forte que não se sabe bem o que é e ai que começa a história...

Em um belo dia, em alguma rede social , algum aplicativo ou um lugar físico qualquer os crushes aparecem, alguns você nem leva a sério, mas sempre tem um que bate pinta. Começam a trocar mensagens todos os dias que despertam interesses, vocês se encontram, ficam de vez em quando, até que um dia já não sabem bem explicar o que estão sentindo um pelo outro, e nem onde isso vai parar.

Passam a vasculhar as redes sociais para ver qual é a concorrência em potencial, não curtem nenhuma de suas postagens, param de responder com frequência ou deixam o outro esperando resposta, afinal  o silêncio é necessário, por que você precisa demonstrar ao crush que não está nem aí, e é verdade, não é mesmo?

Aliás, rola até um ciuminho, mas o jeito é fingir que você abstraiu, já que não há relação definida entre vocês e nada se pode cobrar, desejar, ou criar expectativas e vida que segue para os próximos crushes, mesmo que de vez em quando você bisbilhote o que o crush passado anda fazendo, mas não significa que seja importante. 

Já ouviu  ou viveu alguma historinha parecida?  Eu “nunca”. 




Se no século 19, tudo isto era considerado uma paixão, e já estaríamos morrendo em uma epidemia de tuberculose, hoje, tentamos rotular em diversos nomes, como “crush”, o que sentimos e acabamos vivendo em uma epidemia de incertezas, sem saber o que fomos e aos poucos nos tornarmos lembranças vagas de alguém. 

Talvez, aquele crush que acaba mexendo com sua cabeça feito uma guitarra do Jimi Hendrix , seja complicado de lidar por que, se a gente parar pra pensar... acabamos lidando com muitos sentimentos sozinhos, sem sair do pedestal: expectativas - por mais que a gente seja responsável por todas elas, desejos,  sonhos, ciúmes,  e ai fica cada um de um lado bisbilhotando o perfil do outro, imersos em conclusões nem sempre verdadeiras, sem conseguir dizer o que sente, por mais passageiro que aquilo possa ser, e é difícil carregar o que a gente sente pelo outro sozinho.  


O Bauman costumava dizer que todas as relações vivem na ausência de perspectivas, são instáveis, tudo isso gera angústias e medos que nos paralisam e também fazem com que as pessoas  se conectem mais e se relacionem menos, nisso a gente acaba ficando mais individualista, acreditando que as coisas só dependem de nós mesmos e os sentimentos também, mas não é simples assim.

Não somos robôs,  não dá pra viver de  conselhos que nos digam como não se envolver ou não criar expectativas, isso pode acontecer, ao mesmo tempo os crushes só existem por que temos  liberdades de escolha maiores pra se relacionar e todas elas têm um preço. 

Dentro de todo esse leque de opções que a vida líquida trouxe – crush, affair, rolo-só-que-não a única pergunta que vale a pena é : quanto vale um crush?  Até que ponto vale a pena dizer o que você sente para o crush? Ele está fazendo mal ou bem?  Será que o crush merece sua consideração e que você carregue adiante todo o rolo?

A resposta vai estar até que preço vale pagar por isso e até que ponto seu crush está valendo a pena, se está trazendo coisas boas ou não, porque todas as relações são incertas, tudo depende do quanto estamos dispostos a pagar por elas dentro do nosso tempo. 



K.C


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6 comentários :

  1. Eu acredito que as relações, sejam sérias ou apenas crushes, são complicadas precisamente pelo que disseste no texto: todos nós criamos expectativas, temos ciúmes, lemos comportamentos de forma errada, etc. E, claro, em tudo na vida há um preço a pagar. Mas no fim o que importa mesmo é ser feliz.
    Beijinho.
    lefashionaire.com

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  2. Oi Kelly, tudo bem?

    Seu texto ficou simplesmente espetacular e ao ler fiquei criando e pensando várias coisas que nunca haviam passado pela minha mente. Os crushs são algo difícil de lidar, e durante os anos, a nomenclatura para eles foram sendo mudadas e não sei se isto é bom. Na maioria das vezes não vale a pena falar sobre sentimento com os crushs, e é isto que tenho feito!

    Beijos!

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  3. Os milleniuns possuem um apego físico e material, ele sai da esfera de se apegar somente a pessoas. É uma geração que cria muitas expectativas e não se planeja, porque crê que não vai se frustrar. Eu acho que quando a gente tem um crush, sendo crush pra mim alguém que a gente tem uma afinidade amorosa e sexual, acaba criando uma responsabilidade afetiva aí. Não é algo monogâmico, mas cria-se da mesma forma. E por isso nós vemos tantos corações partidos, porque não temos nossas expectativas satisfeitas por ninguém ou, pelo menos, não por aqueles que queremos que as satisfaçam.

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  4. Muito obrigada pelos comentários, vi que temos uma nova blogueira por aqui, a Catarina, passarei lá pra conhecer o seu espaço!!! E obrigada pela opinião sincera nos outros comentários, meninas às vezes vocês somem, mas é legal quando comentam por aqui!!! Bjs.

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  5. Menina, que texto incrível!
    Amo a sensação de estar lendo alguma coisa e ao mesmo tempo, sem perceber, imaginando as situações haha
    Vou concordar com o fato de ter uma crush ser algo complicado, porque ao mesmo tempo que você quer a pessoa, ela não te quer sdhaudhuas com certeza esse é o dilema da minha vida!
    Amei seu texto, um amor!

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  6. Obrigada Lukas :) pra vc. ver que essa onda de crushs afeta várias idades rsrs

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