Confesso, não gosto de Carnaval.
Lembro da primeira vez que fui convidada para ir em um desses blocos e sentia que estava
caminhando na estrada de encontro para o Bloco “ Beije o Capiroto aqui”. O
estilo musical, um bêbado me paquerando, a mistura de odores desagradáveis,
faziam com que uma moça com ar de desconfiada e camisa dos Beatles quisesse fugir
dali.
“ Meu Deus, você é mesmo brasileira?”. “Põe uma fantasia, se joga”, “ vem ser
feliz, curta o amor de Carnaval”– me diziam. Estupidamente, também gostam de falar que
Carnaval é tempo de curtir um amor sem compromisso e usar camisinha, porque, é
claro, as pessoas só transam nesta data, pra que fazer uma política de educação
sexual o ano todo, não é?
É tão estranho usar esses
argumentos e falar em amor de Carnaval... Nossos desejos com as coisas,
formas de se relacionar com as pessoas a nossa volta mudaram tanto...
Ser brasileiro se tornou uma superfície mais funda que aderir costumes culturais, em meio a uma política
complexa, racismo e machismo em um país tão costurado de diversidade e
discursos falhados. Fantasias e máscaras nunca foram tão frequentes em perfis
de redes sociais, onde homens e mulheres podem fingir ser o que querem ou o que
não são.
Felicidade, esse sopro que nem sempre percebemos, é tão singular para cada pessoa... O que é
alegria para mim, pode ser uma coisa entediante pra você, então como julgar isso?
A máxima de Chico Buarque “ não me diga mais quem é você (...), deixa o barco correr.”, não anda tão distante de nós mesmos, quando o assunto é amor, é como se ele estivesse dividido entre blocos resignificados.
A máxima de Chico Buarque “ não me diga mais quem é você (...), deixa o barco correr.”, não anda tão distante de nós mesmos, quando o assunto é amor, é como se ele estivesse dividido entre blocos resignificados.
Bloco “unidos do match”, que já
perderam as esperanças de encontrar alguém e querem mais é curtir. Bloco “te
quero, mas não sei”, quando dá sim vontade de cair na dança, mas bate aquela
dúvida, se é pra dançar com aquela pessoa ou não.
Bloco “deslocados no amor”, que não se identificam tanto assim com
aplicativos de relacionamento e ainda preferem andar na surpresa, no inusitado,
de alguém que os surpreenda. Bloco “ponta de faca”, que persistem em
relacionamentos diários de quarta-feira de cinzas ou insistem em dar murros em algo perdido.
Bloco “desesperados, só que não”, que querem
sim encontrar alguém, mas está tão difícil que vendam os olhos e aderem
qualquer fantasia. Bloco “amor pra toda obra”, daqueles que ainda acreditam no
amor e que tem a consciência de que a folia pode acabar de repente, mas ainda
assim arriscam em entrar nele.
Deve ter vários outros blocos escondidos diariamente por aí, então falar em "amor de Carnaval" parece uma coisa ultrapassada, num momento em que há vários blocos para optar, de começos e términos rápidos e onde ninguém é totalmente perito no
assunto. Em cada amor há um risco, em cada possibilidade, uma folia.
No fim da festa,
o que ficam são os múltiplos blocos que as novas formas de amar propõem e a tentativa
de encontrar um amor que dance no mesmo ritmo que o seu.
K.C
Ps.: é um livro de contos
inéditos e não de crônicas como aqui no blog, espero que vocês gostem!
Oi Kelly, tudo bem?
ResponderExcluirEu adorei a crônica. Não curto a folia, acho que sou um tipo de extraterrestre que veio parar no Brasil por acaso, pois os ritmos que mais contageiam esses foliões me dão é preguiça e tédio. As pessoas realmente acreditam que irão encontrar seu amor em um bloco, seja ele na época de Carnaval ou não, estando sempre vestindo sua camisa do seu bloco específico. Faço parte dos "Deslocados no amor", minha cara esse bloco haha
Ah, muito sucesso no lançamento do seu livro. A capa está muito bonita! E como você escreve tão bem, tenho certeza que será sucesso!
Beijos!
Vish, Kelly, pode pegar mal, mas me identifiquei em partes com o seu desabafo (posso considerar assim, né, rs?).
ResponderExcluirCarnaval para mim, é só pela televisão. Bom, mas até do que carnaval, não curto multidões, até porque muita gente junta, pode esperar, que na maioria das vezes dá merda, kkk. Concorda, rs?
Abraços sossegados p/ vc.
Alice Martins: Obrigada pela leitura e pelo elogio, bacana que você se identificou com a crônica. Volte mais vezes :) !!! Bj.
ResponderExcluirRob Camilotti: não foi um desabafo, foi uma crônica, um ponto de vista. Quanto a não se identificar, faz parte, fica tranquilo ;). Bj.
Oi Kelly,
ResponderExcluirParabéns pela crônica!Eu também não gosto muito de carnaval... minha definição de divertimento é um pouco diferente. Sou mais sossegada, mas entendo o apelo do evento e da vontade das pessoas de encontrar alguém especial. Acho que todo lugar oferece uma chance, mesmo que inusitada disso acontecer.
Até mais! :)
Sem dúvida, o inusitado existe todos os diaa, não só no Carnaval em si, é o que penso. Bj.
ResponderExcluirDias* errei ali rsss
ResponderExcluirTambém não ligo nada ao Carnaval xD Vejo toda a gente a beber imenso, sair todos malucos e sem pensarem bem naquilo que fazem... enfim... não acho piada nenhuma! Mas concordo contigo nisso! :D
ResponderExcluirBeijinhos,
Mii
#Comic Life
O tom de humor nas crônicas é sempre o melhor hahaha, eu acho que estou no bloco amor pra toda obra e já tive no dos deseperados. Seu texto reflete muito o sociólogo britânico Antony Giddes. Ele diz que com as mudanças tecnologicas, capitalismo e etc. as tradições culturais mudam (pode ser um motivo que explique você achar amor de Carnaval um termo batido haha), os costumes, jeito de amar, etc. mas ele não vê isso como negativo, são novas formas de viver e o ser humano vai tentando se encaixar, no amor também.
ResponderExcluirCrônica muito bem escrita. Parabéns pelo livro, não tenho Facebook mas vou querer comprar!
Mariana Santos: obrigada pela leitura!! Volte sempre!!
ResponderExcluirMarcelo: eu não me lembrava dele por não ter lido muito, sabe mas tem a ver com o Anthony Giddens, sim. Ele vê as novas relações como liberdade de escolha em muitas opções ao contrário de antigamente 😊😊😊. Olha do que tu foi lembrar...rsrs. Obrigada pelo comentário e pelo carinho.
Adorei a crônica e me identifiquei com ela. Não gosto e nunca gostei de carnaval, o máximo que posso dizer é que talvez me simpatizei quando criança, ao sair fantasiada numa tarde, as coisas eram diferentes naquela época.
ResponderExcluirBeijos!
Melhor pist que lu até agora a respeito do carnaval, independente se é uma crônica ou não, me identifico demais, detesto carnaval é sempre detestei, perca de tempo e dinheiro na vdd. Parabéns, adorei a crônica.
ResponderExcluirHoje é dia: Obrigada pela leitura e volte sempre!!!!
ResponderExcluirEstilo quem tem? Obrigada pela leitura e volte sempre!!!
Feliz que o texto tenha gerado algum tipo de relfexão para vocês ^^. Bju.
Oi, tudo bom!
ResponderExcluirAcho que não gostar de carnaval não nos faz menos brasileiros, nós temos uma diversidade de gostos, dialetos e culturas tão grande...
Infelizmente ainda há esse preconceito.
Devaneios a parte amei a sua escrita, também não gosto muito de carnaval! Kkkk
Gostei da forma como você passou, foi quase um desabafo com. Um amigo! E eu acho isso muito legal, pois você mostrou seu coração ao abordar o assunto!
Olá td bem?
ResponderExcluirPrimeiramente parabéns por expor seu pensamento, concordo com vc sobre o carnaval e também particularmente não gosto e não participo, seu post ficou muito bem escrito, adorei :)
bjs
Blog encrespa
Livro de resenhas: seu blog é novo por aqui!!! Vou acessar!!! E obrigada pela leitura😊!!! Bj.
ResponderExcluirBlog encrespa: seu blog tb. é novo aqui nos coments! Feliz que tenha gostado, vou visitar o seu também ;), Bj.
ResponderExcluirFOMO COLONIZADOS CULTURALMENTE POR OUTRAS NAÇÕES ALÉM DE PORTUGAL E POVOS ORIUNDO DA ÁFRICA COMO: Inglaterra após a abertura dos portos quando a corte portuguesa venho para o Brasil, depois pela cultura francesa, a Americana até nos dias atuais.... e por outras que não conheço... resumindo o Brasil sempre foi um país aberto a outras culturas... não temos uma cultura nacionalista... fomos colonizados assim! se se acham tão brasileiros assim pq se esquecem dos índios que já estavam aqui antes dos povos europeus e africanos? podemos ser brasileiros e não gostar de carnaval! e daí? e outra... o carnaval não foi criado pelos brasileiros... tem origens no Egito dito por alguns pesquisadores... se alguém discorda... e muitos séculos depois chegou na Europa! e os portugueses trouxeram para essa terra! ESSE POVO SÓ GOSTA DE DANÇAR E PULAR, MAS DESCONHECE A HISTÓRIA!!! ÓTIMO POST KELLY
ResponderExcluirBlues: sempre com comentários contundentes e políticos! rs, eu gosto de estilos diferentes de se interpretar um texto, legal que vc. veja por este ângulo. Obrigada pela leitura, bj.
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