Dando a Volta com Sacanagem

Elas ultrapassam as camisinhas, as drogas, as brigas, as esquisitices, os amores, os possíveis ódios, qualquer tipo de alienação humana que fazemos ou podemos suportar. Começam na vida dos padeiros, músicos, açougueiros, dentistas, inúmeros outros trabalhos, escapam de seus próprios mundos e se espalham além da óptica da profissão. Expressões cotidianas são clicherizadas, mas não tem quem não as use, de vez em quando...

Dizem que os músicos, não se sabe bem em que tempo, começaram com essa onda “vamos botar a boca no trombone”, talvez uma espécie de “vamos fazer música pra valer...”, depois, no decorrer dos anos, a expressão ficou velha e incabível demais para os músicos e suas flertadas, afinal, nem todos são gays ou gostariam de ouvir isso. Foi a expressão preferida das reivindicações. Hoje é a expressão indireta de programas sensacionalistas e expressão direta de pessoas barraqueiras...

Essa história de “botar a boca no trombone” ou “blow the whistle”, para os adeptos da língua inglesa, dependendo do tipo de situação, nos deixam “com a boca aberta e o queixo caído”, mas sabem como é, quando se fala uma coisa “ajoelhou? tem que rezar”, já diziam as diabólicas santidades sucumbindo suas putarias. Sucumbir tem um valor intrínseco , alguns procuram viver bem com o verbo, outros vivem mal e quando este escapa de uma possível aflição, nem sempre se encontra alguém que diga “tem que erguer a cabeça, dar a volta por cima...” .

Um dia, fiquei pensando quem foi o autor dessa expressão “dar a volta por cima”? O que será que ele quis dizer?Já que “as coisas mudam”- como alguns broxantes gostam de simplificar em seu dizer... O que será que ele era? Uma pessoa revoltada com a vida que disse pra alguém “vai, vai dar a volta por cima, na Lapa, vai...”. Um físico defendendo uma teoria sobre velocidades? Um palestrante de auto-ajuda? Não. Isso é da pós-modernidade e decadente demais. Um cafetão? Alguém sucumbido de sexualidades...? Ou então, nem deve ter dono, ficou conhecida numa música e foi só isso. Mas o Google nos leva a coisas que muitas de suas páginas sucumbidas nem acreditam...

O autor da expressão “dar a volta por cima”, fez incríveis voltas entre dois caminhos que nas mentes sucumbidas dos intelectuais leigos, são impossíveis de serem conciliados: academicismo e arte. Pois é, Paulo Vanzolini, quem diria, médico, zoólogo e pesquisador da USP, fez uma poesia que se tornou uma música, uma marchinha de carnaval - “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, conhecida nos anos sessenta, e ai então, “dar a volta por cima” entrou no legado dessas expressões sem volta, que os vovôs e netos usam como resistência a momentos reinados pelo caos, por mais clicherizada que pareça. Programas de auto-ajuda aderiram , está inclusive no velho Aurélio, e nem os evangélicos resistiram à voltinha por cima...-http://letras.terra.com.br/toque-no-altar/1592175/

Nietzsche disse uma frase que quase todo mundo conhece e Vanzolini deixa claro: “Sem a música, a vida seria um erro.” . A frase não chega a ser uma expressão cotidiana, é filosófica até demais , mas bem que poderia se tornar, assim, quem sabe, o academicismo que geralmente é o primeiro a apontar como errado e clichê expressões e coisas populares, ou melhor , o “senso-comum”, repensariam as suas burrices.

“Dar a volta por cima”, talvez possa ser uma boa posição sexual. O Kama Sutra ainda não descobriu, e deve ser por isso que ela ainda não está por cima, quem sabe um dia não seja uma posição cotidiana, uma salvação para casais sucumbidos...

Por fim, não importa a posição, o fato é que, pelos impostos mal pagos, impunidades, alguns intelectuais babacas que acreditam que Marx ainda ressuscitará ou se sentem no direito de corrigir o viver cotidiano do outro, músicas de mal gosto, cantadas idiotas, as surpresas dos psicopatas que nos rodeiam, nossas indefesas, e as lindas crises nos rondando às segundas-feiras , entre outras listas deprimentes, “nunca antes, na história deste país”, “dar a volta por cima” foi tão necessário.

K.C