Depois dos 26

Outro dia, me dei conta que a maioria dos meus amigos e pessoas que conheço ou passaram  dos, ou têm ou vão fazer 27 e eu, daqui alguns dias, logo entrarei no grupo que dizem ser o começo do "retorno de saturno". 

Dizem que esse período da vida pode ser tão desalinhado como roupas mal costuradas que nem dão pra consertar, outros já exemplificam como uma idade mitológica por causa dos ídolos que se foram ou ainda uma incógnita a ser vivida.

A antecedência do aniversário tem sido de mudanças silenciosas, radicais, às vezes confusas. Há uma vontade de se jogar no novo, de retomar alguns planos de 17 que ficaram lá trás, de dar a louca e viajar por aí, de focar mais em carreira ou mudar de vez, uma vontade estranha de chorar, de mandar tudo ir à merda, de assumir caminhos, colocar os pingos da chuva nos seus próprios is, por mais que eles possam borrar as letras no papel.




O guarda roupa deixou de ser recheado de blusinhas com estampas legais para coisas que ao mesmo tempo sejam descoladas e transpareçam uma mulher, não mais uma garota. E percebi que ganhar matches de caras variados pode até massagear o ego por um tempo, mas não são o bastante pra sustentar os dias de outono.

E que tudo bem se por acaso não rolar o convite pra sair na sexta-feira à noite, já que tem Nutella, Netflix e livros, dependendo de quem te convida pra fazer sexo é melhor ficar com as três opções, embora muita Nutella também possa se tornar um problema, ai bate aquela vontade de voltar a fazer academia para não engordar.


Aliás, as festas também se tornam mais caras, tanto pelas conversas que podem ser interessantes ou dar vontade de sair correndo, como pelos porres que já não são mais de cerveja barata. E pode ser que esteja na hora de sossegar em um canto seu, não mais na casa dos pais.


 “ Sei lá, nunca pensei muito nisso, mas depois dos meus 26,  aconteceu muita coisa fora dos meus planos.”.

“ Depois dessa idade eu não consegui controlar mais nada na minha vida.”.

“Fui mãe, meu corpo mudou, minha cabeça também...”.

"Encontrei um amor e juntamos os trapinhos.”.

 “Tive vontade de sumir pra sempre como alguns ídolos...não sabia se ia aguentar...”.





“Ah eu lembro que foi incrível, joguei meu emprego pro alto e fui pra Paris!” .

“Eu RADICALIZEI nessa idade, fiz tatuagens, terminei namoro, mudei de carreira...”.

“ Não tive uma percepção de mudança nessa idade, tive mesmo foi aos 29... a crise dos 30.”.

 “ Espera, essas coisas todas acontecem nessa faixa de idade ai? Porque eu já to com 24 e estou com todos os sintomas, sou precoce.”.

“ Amiga, aproveita seus últimos dias de bebê, quando você fizer 30, tudo vai passar em questão de segundos e você nem vai perceber.”.

“ Nessa idade... hum... eu desconfio que fui corno, serve?”- Relataram alguns amigos no WhatsApp sobre suas mudanças de percurso. 

É como se eles me dissessem que depois dos 26 acontece um período em que algo muda, sem que se possa medir o peso das velhas e novas experiências, por que quando medidas elas já transbordaram, sem que nada se possa fazer... 

...talvez isso explique os extremos de pessoas que se perdem e, a duras penas, se encontram na vida e das que optam não viver nessa idade, também.

Larguei o celular e fiquei observando parte da cidade acinzentada pela sacada. “ Não faça tudo pra sua idade ser difícil, faça tudo para ela ser desafiante.”, eu dizia para mim mesma. 

O medo existe, mas quem nunca? Tenho 12 meses para descobrir o que este período me revela. 




K.C



Ps.: Agora, o blog é parceiro da Lionshome, quem tiver interesse em  novas parcerias com o blog, entre em contato.

4 comentários :

  1. Gostei muito do seu texto sobre a transição para a vida adulta de vez. Lembro que no ano passado eu me senti assim cheio de mudanças, caminhos pela frente, mas sobrevivi e você aparenta ser uma mulher forte acho que sobreviverá também a todas essas mudanças que vem pesadas mesmo nessa idade.

    Só posso desejar parabéns novamente, eu acompanho aqui alguns anos, vi sua evolução e o crescimento dele com leitores, então desejo que ele cresça ainda mais. Seu blog tem muita qualidade textual e precisa ser espalhado mesmo! Um abraço.

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  2. Impossível não se identificar com seu texto, estou perto de completar 27 e as eternas dúvidas perpassam pela minha mente, é quando começamos a perceber que mais um ano é, na verdade, menos um ano e nos questionar se estamos vivendo uma vida a qual viveríamos novamente.

    Não gosto de me ater muito a números, acho que eles nos limitam. A mudança não tem idade.

    Gostei da forma honesta com que escreve, Kelly.

    Beijos

    O Mundo Em Cenas

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  3. Kelly!

    Tua escrita espontânea é única...
    Fascinante tua voz diante de um ciclo que se fecha e se abre... As idades, as fases, as vontades nos mudam constantemente, isso é tão fascinante!
    Apesar de tudo, ainda estamos na melhor idade...
    Talvez, toda a idade tenha o seu melhor. Quando vivemos "o aqui e o agora" intensamente...
    Não sei...pode ser.

    Te deixo um forte abraço, querida!
    Beijo!

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  4. Queridos obrigada a todos os comentários e até mesmo a galera que lê e prefere mandar e-mail. Ia responder cada comentário, mas nâo estou conseguindo quando clico em "responder". Obrigada pelos elogios, pela leitura e vou ler cada vez mais o blog de vcs tb. Um beijo.

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