Vícios Atrás Da Porta

Um cara qualquer perguntou para mim e o meu atual boy se tínhamos balinha numa balada. A gente disse que não usava. Ainda assim ele continuou lá falando que era viciado nisso, contando problemas e depois foi embora. Curtimos nossa noite, sem julgar o assunto ou ficar impressionados. Fiquei pensando por que falar sobre vícios deixa as pessoas tão apreensivas? 




Se a gente for reparar de verdade, estamos diante de vícios o tempo todo, sem entender muito bem o que isso significa...Maconha, Prozac, Gardenal, Eparema,  Rivotril, Anador, Lactopurga, Coca-cola, redes sociais,  emprego, casamento, Carnaval, futebol, alguma paixão, entre outras milhões de coisas. Cada qual com seu vício, com sua ilusão.

Decerto alguns vícios são piores que outros. Já vi pessoas ficarem viciadas em costumes religiosos. Também já tive amigos com problemas bem graves usando drogas ilícitas e não tive a curiosidade de experimentar, vendo tantas experiências ruins na minha frente. Outro dia, encontrei um deles no elevador da Revista em que eu trabalhava – que por sinal era um pé-no-sa-co. Era uma amiga distante. Coincidências? Sim.  Vou continuar acreditando que elas existem, que podem ser escritas, até que algum pomposo do misticismo me prove o contrário.


Disse que estava tentando parar de usar alucinógenos, decidiu se tratar. Desejei sinceras sortes e que ela não tivesse recaídas na sua decisão, porque esta é sempre difícil. Tomar decisão é  diferente de tomar qualquer coisa. Decisão é uma droga perigosa, quando o efeito bate nunca tem volta. É  assim, colada com as nossas escolhas.

Não sei o que é usar drogas pesadas, não saberia afirmar algo sobre elas.  Já sai de bares bem pra lá de louca, já tomei remédio pra ansiedade, pra dormir, enfim um horror. Foi fase. Troquei remédio por terapia, deixei alguns vícios internos para trás, conservei a cerveja e afins, os livros, e as paixões por coisas que são muitas...

Saio no fim de tarde a encontro do love. Reparo nos muitos cigarros e nos tiques dos outros, nas filas dos comércios, nas mãos digitando os Iphones, e fico com a impressão de que todo mundo tem um vício atrás da sua porta, bem escondido. 

“ Não conheço seus vícios ainda...” – ele disse.  “Quem sabe um dia você decida descobrir...”-  respondi encostada na parede. Me deu um beijo, daqueles de se afogar na água salgada e  fizemos sexo ao som do blues vindo da janela.





Acho que viciei em blues. Um dia enjoo, ok. Sei lá, talvez sentimento faça a gente descobrir as coisas juntos, até mesmo os vícios. 



K.C

5 comentários :

  1. Parabéns. Gostei da forma como abordou os vícios, acho que seus textos possuem um charme e a reflexão que você traz ao leitor é boa. Seu blog deixa um mistério se o personagem é você ou não, ou se é misturado, bem escritores quase nunca respondem isso( seus chatos hehehe), mas vale a pena a leitura sempre. Beijo. Boa semana.

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  2. Um belíssimo e poético texto... a qualidade e a profundidade continua irretocáveis. A imensidão do cotidiano.

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  3. Você é uma escritora de mão cheia...Riqueza na narração e percepção no ambiente,no comportamento complexo do ser humano...Formidável ideia projetada...Meus parabéns !! Espero ter um livro seu um dia... Beijos.

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