O Gosto da Espontaneidade



Outro dia, ouvindo músicas, dessas que adoramos quando crianças, mas que, quando somos possuídos pela seriedade do incrível mundinho adulto, achamos trashs, feias, sem sentido ou qualquer coisa do gênero, lembrei-me da minha infância.



Para quem viveu a infância nos anos noventa, deve se lembrar bem da época da turma do “Castelo RA TIM BUM” - Nino e Cia; o “RA TIM BUM” - do Professor Tibúrcio e suas aulas, as melhores da vida, de dois minutos, tão queridas; daquela novelinha/seriado “Chiquititas”, e a febre dos axés que se dançava, pulava feito doido, sem se importar com estilos musicais. Era o “É o Tchan” , a “Dança da cordinha”, o “ Arigathan”, o “Tchan no Hawai”, estranho era a criança que não aderisse àquela maldita febre. Tudo era tchan.

Hoje isso soa engraçado, pois são músicas que na minha cabeça, não dizem coisas com coisas, são todas horríveis, porém na época em que tudo isto foi o auge, não pensava nem mesmo no tal “E daí?”. Num ápice de espontaneidade, que no fundo toda criança possui, eu dançava e pronto, simples assim... enfim, faz parte dessas fases que construímos e desmontamos. É como aquelas frases feitas que vivem circulando no nosso dia a dia “as coisas mudam”, e de fato, é verdade...



Crescemos rápido demais, como mamãe diz, não tanto como a velocidade da luz, mas crescemos, e quando percebemos, já nos condicionamos à colocação social do mundo adulto: a seriedade em pessoa, por vezes sisudos até demais. Na medida em que crescemos, é recorrente criarmos sensos crítico e popular para certas coisas. O bom e o ruim tornam-se, então, questão de escolha, mas a sociedade vai impondo como ela quer que todos sejam: adultos normais.


Na prática, sabemos que a normalidade não existe, mas a imposição, muitas vezes, é bem mais veloz que o pensar ou não pensar que algo exista, e ai reprimimos a espontaneidade de criança, ou então ela nem vive o seu momento “alá menudo” do “não se reprima”- opa, isso é anos oitenta - e vai morrendo aos pouquinhos, é certo que, às vezes ela, sufocada, pode aparecer em algum momento, cantarolando em meio a uma embriaguês, e ainda assim não é a mesma, aquela que sentimos na infância.

A espontaneidade adulta, se é que ela existe, dura somente algumas horinhas, acaba com “o bolso” nas festas, é ruim no dia seguinte, dói a cabeça, dá muita sede e gera outras reações no organismo que é desnecessário detalhar. No fundo, é uma “espontaneidade” falsa, que não existe, ela só tenta existir para se esconder de problemas diversos, ou extravasar um pouco a turbulência desse mundo adulto em que se vive...



Mas afinal, e o “ É o Tchan”? , como toda boa febre, o grupo viveu seus trinta e nove graus no termômetro, passou para dezoito, treze...cinco... um e meio e... hoje, Graças a Deus, a Buda, à Shivaya e a Satanás, pouco se sabe em qual temperatura estão...




Ah , claro, hoje não danço, tampouco escuto, o ouvido já não permite mais, já se habituou a ouvir outras coisas , de Beatles à Ray Charles, estes que tanto tomam os sentidos da minha audição...
Para os meus amigos também, ao menos a maioria, essa fase passou, mas aquela naturalidade, para bem ou para mal, ficou guardadinha nas nossas memórias de crianças espontâneas que fomos; hoje crianças gigantes, nem tão espontâneas assim...

K.C

20 comentários :

  1. Kelly, as coisas da vida não são questões de matemática. A espontaneidade acontece todos dias, um momento de descuido e a mente vaga pelo mundo olhando a rua, sonhando com o tudo e o nada e quando a gente vê se pega fazendo uma coisa totalmente inesperada. Quando adulto as pessoas julgam mais, mas todas querem ser elas mesmas, e nada mais.

    ResponderExcluir
  2. Eu concordo com o Marcelo acima, no fundo todo mundo quer ser a propria pessoa, mas somos julgados, julgamos uns aos outros e ai viemos nesse circulo vicioso e estranho como vc I N T E L I G E N T E M E N T E disse no texto: viramos crianças gigantes e bebemos ou fazemos qualquer coisa pra tentarmos ser espontaneos.

    Muito bem pensada sua crônica. Abraço.

    ResponderExcluir
  3. Maturidade é maravilhoso se for vivida como deve: empilhamos informações e impressões sobre as antigas, as anteriores vão se depurando e ficando mais doces, que nem fruta. Sendo assim, é pura delícia. Mas os adultos parece que desamadurecem, ficam mais verdes, mais azedos; desaprendem o que sabiam, jogam fora o que tinha por objetivo formá-los. Jogo nada fora. Sinto o mesmo amor de antes pelo que me criou, se bem que amor transformado no jeito. O amor que não é mais paixão, mas gratidão e ternura nunca deixou de ser. Beijos coloridos, espontâneos e sucesso no blog!

    ResponderExcluir
  4. NUUUUNCA!
    Sou mais do que adepto das minhas músicas de criança. Tenho um lado infantil muito forte, justamente pra não me tornar esse adulto estranho, tão comum hoje em dia.
    Castelo Rá-Tim-Bum, Palavra Cantada, Xuxa... tudo isso me acompanha ainda, pode ter certeza.

    Seu blog é massa!
    _________________________________
    http://alteregodonuti.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  5. Olha concordo com tudo, Estava falando sobre isso outro dia, músicas que ouvia quando criança e nem sabia do que se tratava e hoje fico absmada, nunca me permitiria escutar tal coisa, amo Ray Charles entre outros que fazem parte do meu dia a dia.
    Parabéns pela postagem e pelo blog

    ResponderExcluir
  6. hauahauhaua verdade! castelo ra tim bum! gostava muito, hoje se parar não consigo ver nem um minuto :/ huahauahu é o tchan tbm era muito maneiro, tudo que é perfeito a gente pega pelo braço (8) hauahuahua seu post me fez refletir um pouco sobre o passado!

    http://aneurysmnanet.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  7. Gosto de pensar que ser adulto é muito chato. Em alguns casos, significa viver em um mundo de regras considerado realista pela sociedade no qual o certo e o errado, o bom e o ruim são estritamente delimitados. No fim, quando as pessoas crescem, todos ficam adultos demais para certas coisas, o videogame fica violento e vira má influência para os jovens e a música parece podre. Nada a ver, temos todo o direito de se divertir e parar de ser tão desnecessariamente 100% sério.

    ResponderExcluir
  8. o tempo passa..

    se possível visite meu blog

    www.semente-terra.blogpsot.com

    ResponderExcluir
  9. Um pouco de nostalgia sempre é bom. Mas ainda bem que o tempo passa.

    ResponderExcluir
  10. ser adulto é chato. fato!... mas é necessariíssimo!... te sigo!

    www.jaylsonbatysta.blogspot.com
    www.simplesmentejaja.blogspot.com

    ResponderExcluir
  11. Isso era o que se tinha de melhor. O trabalho do adulto deveria ser resgatar-se a si mesmo dessa seriedade fútil - por vezes apenas. Lembrei de um livro, o Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa, que diz assim: “Somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre”.

    ResponderExcluir
  12. è quase que vergonhoso dizer q eu já comprei um cd do è o Tchan. E o pior e que quase todos os meus amigos que hoje em se acham super alternativos, tb.

    bjs ,
    vivica

    www.aquempode.blogspot.com

    ResponderExcluir
  13. Sejmana passada fiquei ouvindo essas musicas... Somos a ultima geração realmente feliz oque as crianças do século 20 vão recordar?

    ResponderExcluir
  14. trabalho com criança e ter a oportunidade de ensinar-lhes desde cedo músicas boas, ouvir a mensagem da letra da música, seu ritmo, de onde ela vem, como é a melodia etc... é muito legal... mas as vezes as crianças querem essas coisas normais, como os adultos anormais (gênios bebem mais! neh kelly? rs) querem ser normais, falar as palavras normais, pensar normal, se movimentar normal, cantar normal, escrever normal, enfim... Vide "Os normais" :D....

    A normal Elis regina dizia mtas coisas de maneira normal, que hoje nós normais achamos normal... mas o anormal corinthiano, vem com toda sua espontaneidade e acha que o seu time é melhor do que... que o melhor é melhor... que o certo é certo... o problema num é nada ... mas deus que me perdõe por ser ateu e rezar todos os dias...

    "sou caipira pira pora nossa... senhora diiiiiiiiiiii aparecida... ilumina mina escura e funda o trem da minha vida... Me disseram, porém
    Que eu viesse aqui
    Prá pedir de
    Romaria e prece
    Paz nos desaventos
    Como eu não sei rezar
    Só queria mostrar
    Meu olhar, meu olhar
    Meu olhar"

    esqueci aquela parte do me disseram porém... a criança eh linda... mas existe maldade em potencial nesses olhinhos tão serenos de paixão pela vida...

    prazer em lê-la ... bjo

    ResponderExcluir
  15. crianças malvadas antes de nascer? máquina de formar pestinhas

    ResponderExcluir
  16. Realmente, isso é entendido por todos, é engraçado como as coisas mudam, mas as memorias são as mesmas os pesamentos ainda gostam de lembrar de como aquilo era bom. Pode não está vivo, mas sempre serão eternos em nossas memorias!

    ResponderExcluir
  17. concordo com os dois primeiros..
    sabe muitos pessoas tbm, copiam os outros não so p não ser diferente mais p chamar atenção.. FATO..

    ResponderExcluir
  18. Acho que crescer é importante, mas não devemos nos esquecer que diversão também é uma necessidade.
    É só não confundir "bom gosto" com "brincadeira" e saber dar o devido valor (muito ou pouco) pra cada um dos dois.

    ResponderExcluir
  19. Já passaram no blog, tem post novo: tutorial de unhas!!!Corre lá também poque 2 SORTEIOS ROLANDO!!! SORTEIO MOROCCANOIL E SORTEIO MAISON JOLIE!!!

    www.pimentaroja.blogspot.com

    Bjoss

    Gi

    ResponderExcluir
  20. Concordo com o que disse, nos falta espontaneidade, deixamos de ser criança para sermos um ser sem cor e sem sal, o qual se mata todos os dias para ser o que não é, para agradar e ser agradado, somos o que não somos, pois somos obrigados.

    Ótimo texto, aliás. ahaha

    ResponderExcluir